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Palmeira que ‘anda’? Entenda por que planta nativa carrega mito de caminhar pela floresta

Socratea exorrhiza pertence à família das Arecaceae, que ocorre da América Central até à Bacia do Amazonas Carroll Perkins/iNaturalist Imagine uma árvore ...

Palmeira que ‘anda’? Entenda por que planta nativa carrega mito de caminhar pela floresta
Palmeira que ‘anda’? Entenda por que planta nativa carrega mito de caminhar pela floresta (Foto: Reprodução)

Socratea exorrhiza pertence à família das Arecaceae, que ocorre da América Central até à Bacia do Amazonas Carroll Perkins/iNaturalist Imagine uma árvore que, aos poucos, troca de lugar na floresta. Essa é a fama da palmeira-andante (Socratea exorrhiza), também chamada de paxiúba. A aparência de que ela tem “pernas” e consegue se deslocar intriga turistas e pesquisadores há décadas. Segundo a bióloga e botânica Carolina Ferreira, o apelido começou a circular nos anos 1980, quando antropólogos registraram, no Peru, a ideia de que a planta poderia se mover em busca de luz. “O nome popular se deve ao fato de que a espécie, através de um processo bastante lento, teria novas raízes crescendo em direção a lugares mais favoráveis. À medida que essas novas raízes se fixassem, as mais antigas acabariam levantando e morrendo, e a árvore pareceria se deslocar”, explica. Mas, de acordo com os estudos mais recentes, a teoria de que a palmeira realmente anda não passa de um mito. As chamadas raízes-escora podem chegar a dois metros e partem do caule em direção ao solo, formando um cone aberto Ty Sharrow/iNaturalist “Hoje sabemos que essas raízes escora não fazem a planta se mover. Elas servem, na verdade, para dar estabilidade em solos alagados e permitem que a árvore aumente sua altura sem investir em um tronco grosso. Assim, ela alcança mais luz no dossel da floresta”, completa Carol. As chamadas raízes-escora podem chegar a dois metros e partem do caule em direção ao solo, formando um cone aberto. “É isso que chama tanta atenção: parece que a planta tem pernas. Tanto que um dos nomes populares é ‘sete pernas’”, comenta a bióloga. Além da aparência, essas raízes representam uma vantagem evolutiva, pois aumentam a capacidade da espécie de explorar as frestas de luz melhor do que outras palmeiras. As raízes da palmeira-andante representam uma vantagem evolutiva, pois aumentam a capacidade da espécie de explorar as frestas de luz melhor do que outras palmeiras Kim Dewey/iNaturalist Papel na floresta A palmeira-andante ocorre em vários países da América Latina, desde a Nicarágua até o Brasil, passando por Costa Rica, Colômbia, Equador, Peru e Bolívia. No território brasileiro, está presente em áreas de floresta de terra firme e regiões periodicamente alagadas, sempre próximas a rios e igarapés, nos estados do Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Maranhão e Roraima. Os frutos da palmeira-andante alimentam diversos animais, como macacos, antas, porcos-do-mato e aves como tucanos e jacus Miles Buddy/iNaturalist A paxiúba é uma peça importante no equilíbrio da floresta. “Seus frutos alimentam diversos animais, como macacos, antas, porcos-do-mato e aves como tucanos e jacus, que ainda ajudam na dispersão das sementes. Já suas raízes podem servir de abrigo para pequenos roedores”, explica Carolina. Usos pela população Além do papel ecológico, a espécie é valorizada por comunidades tradicionais. O estipe fibroso e resistente é usado para construir casas, paredes, assoalhos, armadilhas de pesca, arcos, bengalas e até postes. As sementes, que lembram a noz-moscada por sua aparência rajada, viram matéria-prima para biojóias e móveis artesanais. As sementes da palmeira-andante lembram a noz-moscada por sua aparência rajada Mayk Oliveira/iNaturalist Na medicina popular, também há registros. “As raízes já foram utilizadas no tratamento de hepatite, leishmaniose e até doenças sexualmente transmissíveis. Há relatos do uso do caule ralado para cicatrizar o umbigo de recém-nascidos, além do exsudado das raízes em venenos de flechas”, detalha. Outra curiosidade é o uso contra insetos da floresta: substâncias presentes nas raízes são citadas em estudos como um recurso para aliviar a dor intensa causada pelas picadas da formiga-conga. Com tantos usos, a espécie corre riscos. “É preciso ter cuidado com o manejo da paxiúba. O uso indiscriminado, somado ao desmatamento e às mudanças climáticas, pode comprometer as populações naturais de Socratea exorrhiza”, alerta a bióloga. VÍDEOS: Destaques Terra da Gente Veja mais conteúdos sobre a natureza no Terra da Gente

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